Descobrir Almeida Garrett: o ícone literário do Porto
2 de agosto de 2024
João Leitão da Silva, mais conhecido pelo público em geral como Almeida Garrett, nasceu a 4 de fevereiro de 1799, na antiga Rua do Calvário, na freguesia da Vitória, na cidade do Porto. Foi um dos mais conceituados e conhecidos escritores da literatura portuguesa do século XIX. Nascido no seio de uma família privilegiada e com uma educação variada, a sua influência inicial veio do avô materno, José Bento Leitão, na Quinta do Sardão, em Oliveira do Douro (Vila Nova de Gaia), onde adoptou o nome de João Batista da Silva Leitão.
Estátua de Almeida Garrett em frente à Câmara Municipal do Porto
Durante a adolescência, Almeida Garrett viveu nos Açores, nomeadamente na ilha Terceira, para escapar às tropas francesas de Napoleão Bonaparte. Foi educado pelo seu tio paterno, D. Alexandre da Sagrada Família da Silva Garrett, bispo de Angra na altura. Este período foi determinante para a adoção de ideais liberais. Mudando-se para Coimbra em 1816, matricula-se no curso de Direito da Faculdade de Coimbra e, em 1818, junta os apelidos Almeida e Garrett, os apelidos da família materna e paterna, respetivamente. Assim, passa a assinar o seu nome como João Batista da Silva Leitão de Almeida Garrett. Em Coimbra, publicou o seu primeiro livro, "O Retrato de Vénus", que o levou a ser processado por ser considerado materialista, ateu e imoral, embora tenha sido absolvido.
Após a conclusão dos estudos académicos, em 1821, desenvolveu fortes ambições políticas, patentes no seu envolvimento na Revolução Liberal do Porto, em 1820, que visava a instauração de uma monarquia constitucional em Portugal. Devido à sua participação ativa nas lutas liberais, foi obrigado a abandonar Portugal em 1823, quando o absolutismo foi restaurado na sequência de uma contrarrevolta liderada pelo rei D. Miguel. Optou então por se exilar em Inglaterra, onde conheceu o movimento romântico e descobriu autores como Shakespeare e Walter Scott. As suas experiências em Inglaterra, incluindo as visitas a castelos feudais e às ruínas de igrejas e abadias góticas, influenciaram grandemente a sua obra posterior. Em 1824, partiu para França, onde produziu as suas primeiras obras românticas, "Camões", em 1825, e "Dona Branca", em 1826.
Depois de ter participado no Desembarque do Mindelo e no Cerco do Porto, em 1832 e 1833, Almeida Garrett, Alexandre Herculano e Joaquim António de Aguiar, fixaram-se definitivamente em Portugal. Desempenhou vários cargos políticos dentro e fora do país, o que lhe permitiu criar as condições ideais para começar a publicar os seus títulos mais notáveis. Em 1843, publicou "Frei Luís de Sousa" e "Viagens na Minha Terra".
É de salientar que Almeida Garrett foi casado com uma jovem chamada Luísa Midosi, mas separaram-se mais tarde (não se divorciaram formalmente, pois o divórcio não era legal em Portugal nessa altura). Para além disso, desempenhou um papel fundamental na criação do Teatro Nacional D. Maria II e do Conservatório de Arte Dramática, contribuindo significativamente para o crescimento do teatro e da literatura em Portugal.